Óia nóis aqui denovo pra módi trocar mais uns dois dedin de prosa cocês. Primeiramente, gostaria de pedir desculpas por estar escrevendo tão tarde a coluna nesta semana. A correria foi enorme, mas estou eu aqui firme e forte no meu compromisso com vocês. Assistindo o quadro “Bem Sertanejo” no Fantástico no último domingo e vendo dois ícones da música sertaneja como Milionário & José Rico e Léo Canhoto & Robertinho, me veio à mente o quanto o “personagem central” das letras da música sertaneja evoluiu. Quero convidar vocês para uma viagem no tempo para vermos como nosso caipira mudou de vida ao longo dos anos. Dos anos 30 até o final dos anos 70, nosso caboclo era uma pessoa muito simples, acostumada com a lida no campo. Morava numa casinha simples, rodeado pela natureza que ele tanto amava. Era só falar de ir à cidade, que ele já se aquietava e não queria nem pensar na possibilidade de deixar seu ranchinho. Era valente, resolvia as coisas na bala. Domava touro bravo, matava e morria para conquistar seu amor. Na condução da boiada era perito e tinha várias estórias emocionantes para contar sobre a lida do gado. Era literalmente bruto, rústico e sistemático. A viola caipira era o que embalava suas estórias de sucessos e em alguns casos, trágicas. Sua principal mágoa era ser injustiçado ou ridicularizado pelo “Grã-fino” ou “Doutor” da cidade grande, mas sempre tinha uma sacada de mestre para virar o jogo. Nos anos 80 e 90 nosso personagem mudou bastante. Deixou de ser o Jeca, e passou a morar na cidade, mas sem esquecer suas raízes. Muitas vezes reclamava a falta do sertão, mas seus interesses já eram outros. Ele virou um poeta, romântico inveterado e sofria demais com os constantes casos de desamor. Era traído constantemente, afogava as mágoas na bebida e chorava a ausência da mulher amada, mas nunca desistia da busca pelo seu grande e verdadeiro amor. A sua viola caipira foi trocada por arranjos mais rebuscados e sofisticados, muitas vezes copiados das músicas românticas do estrangeiro. Os causos deram lugar aos casos de amor mal resolvidos e as modas ficaram mais doídas e sofridas. Nos anos 2000 em diante, nosso personagem ficou bem de vida. Ficou mais decidido e não toleraria mais o abandono da pessoa amada. Ficou rico e agora só anda de “Camaro Amarelo” e “Dodge Ram” e não quer mais nem saber do campo. De “Corno” passou a “Pegador”, e não quer mais voltar para o sertão de jeito nenhum. O negócio do nosso ex-caipira agora é balada, mulher e ostentação. Com isso ele perdeu conteúdo, não quer saber mais da Viola e até os arranjos agora são meros detalhes para ele. O que ele quer agora é Funk, música eletrônica, arrocha e por aí vai. Ele não é mais aquele caipira franzino com a roupa amarrotada e gasta. Agora ele é fortão, vive na academia e só anda de Armani, Abercrombie e John John. “Não anda mais a cavalo, só compra carro importado”. Pois é, já parou para pensar que a música sertaneja hoje, só é sertaneja no nome? Com algumas exceções que procuram manter a raíz, parece que as duplas hoje se preocupam mais com o visual do que com o gênero que representam. Para esses guerreiros, que mesmo que por uma vez ou outra procuram manter a tradição e honrar as raízes da música sertaneja, meu enorme respeito e meu muito obrigado. Para aqueles que não o fazem, eu não os culpo. Talvez foram mal orientados ou seduzidos pelo poder da mídia e da ostentação. Mas lembrem-se assim como nosso caipira mudou ao longo dos anos, ele vai continuar evoluindo. Mas a essência do que é ser sertanejo, nunca vai abandonar seu coração. É isso aí galera, até o próximo “Dois Dedin de Prosa”.
De Jeca amargurado à “Rei do Camarote” – A Evolução da música sertaneja nos últimos anos.
